ACTIVA: Entrevista a Paula Alves, CEO do iBET e a ‘equação’ para conciliar família e carreira

27.03.2017

  Estivemos à conversa com Paula Alves – CEO do IBET (Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica). À frente de uma instituição dedicada à investigação nas áreas da Biotecnologia e Ciências da vida. Paula Alves é uma das mais respeitáveis mulheres na Ciência em Portugal. Mas é também casada e mãe de dois rapazes. Recordando os primórdios de uma carreira de sucesso, Paula recorda que sempre soube que queria estar na área das Ciências. “depois de fazer o estágio com uma pessoa super dinâmica, que me entusiasmou para seguir para o doutoramento em Engenharia Bioquímica”. Depois, enveredou pela área dos biofármacos e aí teve de tomar uma escolha, determinante em todo o seu percurso: “Optei por ficar em Portugal, porque me casei e tive os meus dois filhos durante o doutoramento; foi-me feito o desafio de coordenar um laboratório no Instituto e aceitei porque queria coordenar a minha vida pessoal com profissional e hoje não estou nada arrependida, porque podemos contribuir para dinamizar a Ciência e para formar pessoas no nosso país." O aspecto da formação é uma das áreas porque se 'apaixonou' e, mais tarde, começou a envolver-se cada vez mais na actividade lectiva. Atualmente, dá aulas no Instituto e na Faculdade de Novas Tecnologias. “É uma actividade que me enriquece porque nós vamos envelhecendo, mas os alunos têm sempre a mesma idade e são eles que nos vão actualizando e que tornam os desafios constantes. Gosto muito do que faço, tanto de dar aulas, como de investigação . O papel de professor, da primária à universidade, é muito importante na vida das pessoas porque as ajudamos a crescer e a desenvolverem-se.” Um percurso intenso, a par de uma vida pessoa ‘normal’, mas houve um aspecto que fez a diferença: “Casei-me com 25 anos, o meu marido é da área de informática, mas sempre foi uma pessoa que me apoiou nas minhas decisões e isso é crítico quando falamos de mulheres e de conciliar a vida pessoal e profissional: encontrar um parceiro que nos apoie." Dificuldades ao longo do percurso, nomeadamente por ser mulher? Paula Alves salienta a importância da diversidade: “Equipas com homens e mulheres são muito mais produtivas As mulheres têm uma forma diferente de ver e concretizar as coisas.” O que faz chegar à tona, inevitavelmente, o tema da família: “Quando optamos por ter filhos a nossa prioridade passa a ser a família, não é que isso não aconteça com os homens, mas há uma relação diferente entre uma mãe e um filho. Na altura em que precisamos de nos dedicar mais à carreira, esse balanço pende sempre para os filhos e os homens não desaceleram tanto. Parte de nós mantermos a velocidade quando estamos a progredir na nossa carreira é preciso muita força de vontade e um companheiro que nos apoie e que permita que o consigamos fazer. Porque se isso acontecer, e passarmos o período mais critico, quando as crianças precisam mais de nós, conseguimos depois acelerar e chegar aos lugares de topo.” Paula Alves defende as quotas, mas têm uma visão que escapa à leitura mais convencional deste tema: “Na minha equipa, se só escolher os melhores só tenho raparigas – porque as mulheres amadurecem mais rápido do que os homens, porque são muito mais aplicadas no estudo e têm melhores médias; mas sei tem que tem de haver um balanço e acho que isso tem de ser imposto de alguma maneira. Feminista? Não sei se é esse o termo que me define, defendo é a igualdade de oportunidades, apesar de não sermos iguais. Tem é de haver complementaridade.” O segredo para o sucesso? Paula refere o que a ajudou: “Ter tido a coragem de correr riscos – tive-a porque tive quem me apoiasse, o meu marido, a minha família e as pessoas com quem trabalhava. Nunca devemos ter medo de ter alguém a trabalhar connosco que saiba mais do que nós e nunca devemos ter medo de dizer que não sabemos. Superei os meus medos porque me fiz rodear de pessoas que me ajudam no dia-a-dia.” Se é difícil conciliar tudo? Paula não ‘mascara’ a realidade, mas sabe tirar o máximo valor das suas escolhas: “O meu trabalho ocupa-me tempo demais. Acho sinceramente que trabalho demais e tenho roubado tempo à minha família, mas acho que os meus filhos, que já são adolescentes, ao perceberem que o que eu faço pode contribuir para desenvolver novos medicamentos ou ao verem o prazer que tenho em ensinar, têm orgulho em mim, e isso alivia o sentimento de culpa que tenho.” E lembra: “Muitas vezes são as próprias mulheres que nos fazem sentir essa pressão. Abro as revistas e vejo aquelas mulheres que dizem “larguei tudo pelos meus filhos” – mas esses clichés põem a mulher numa posição em que parece que, quem não faz isso, não está a ser boa mãe. E são as mulheres que fazem isso e não os homens. Acho que há lugar para tudo. Há mulheres que são felizes assim, outras não. Claro que o meu principal objectivo é que os meus filhos sejam felizes. Mas a grande luta das mulheres é contra os clichés da sociedade.”